A Psicanálise na contramão da cultura

download (8)De tempos em tempos ouvimos alguma profecia que sinaliza que a Psicanálise está com os dias contados. E os motivos que justificam tais “ataques” são inúmeros: é uma psicoterapia demorada e lenta, seus resultados são difusamente comprovados, é cara e custosa para o paciente e, acima de tudo, não diz a este o que deve ou não fazer!

Mas, então, porque a Psicanálise continua existindo, criativa e viva dentro daqueles que a conhecem e a vivenciam, seja em suas análises pessoais, seja em sua prática de estudo e atendimento diário?

Penso que, em primeiro lugar, é porque ela nos oferece a verdade!

Não uma verdade dogmática e normativa, mas a verdade subjetiva de cada um de nós.

A busca pela verdade…

Quantos pacientes que já perambularam de consultório em consultório, experimentando diversos tipos de medicamentos e “tratamentos alternativos”, respiram aliviados quando ouvem que seus analistas, além de os enxergarem de verdade, apontam para algo deles próprios que é verdade ou faz sentido.

Trata-se de um momento doloroso e belo ao mesmo tempo!

Penso que só quem já experimentou se deitar no divã pode verdadeiramente dizer algo acerca da Psicanálise!

Penso também que num momento como o nosso em que as pessoas nunca estiveram tão “conectadas” e por outro lado, tão desconectadas consigo mesmas e entre elas próprias, a Psicanálise se oferece como um convite a dois para que olhemos pra dentro de nós.

Na tentativa de construir um continente que possa suportar nossas dores, ódios e angústias que, caso não sejam realmente vividas e pensadas, transbordam sob a forma de atuações.

E isso não é possível sozinho!

Relações líquidas…

Num momento em que tudo é líquido, conforme nos aponta o filósofo Bauman, a Psicanálise se apresenta como um lugar em que a existência pode tomar uma forma mais coerente e contornada. Caso contrário, continuaremos a assistir, assombrados, à existências que contêm somente uma casca, muitas vezes bonita e bem sucedida, mas, ainda assim, uma casca.

Para representar o que quero dizer, sugiro que leiam o interessante livro Cavaleiro Inexistente de Ítalo Calvino.

Tratava-se de um cavaleiro produtivo e impecavelmente bem adaptado que, na verdade, não existia. Toda sua existência estava apegada às regras sociais e as normas de convívio, mas, não havia nada em seu interior que pudesse expressar seu verdadeiro ser, sua verdadeira essência. E o que ele mais queria era poder existir. Tinha inveja daqueles que podiam dormir e sonhar, sofrer desilusões amorosas, odiar e amar.

Enfim, O Cavaleiro Inexistente não podia existir porque não havia nada dentro dele que lhe desse contorno. Era oco por dentro.

Obviamente a Psicanálise caminha na contramão da nossa cultura atual em que tudo tem que ser rápido e indolor. Por outro lado, para que possamos existir verdadeiramente, ao contrário do que vivia o Cavaleiro Inexistente, não podemos prescindir nem do outro, nem de algum tipo de dor mental.

A importância do outro…

Precisamos do olhar e da compreensão do outro para nós tornamos humanos! Nesta trajetória não podemos prescindir de companhia, mesmo que as companhias possam nos trazer dissabores, falar coisas que não gostamos de ouvir ou nos frustrar em alguns momentos.

E é por tudo isso que a Psicanálise continuará a existir e nos enriquecer como pessoas proporcionando as únicas verdades que são capazes de nos trazer alívio: as nossas!

 

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