Os casos clínicos de Freud: uma aventura do pensamento

FreudIntrodução

*Trabalho apresentado na aula inaugural do módulo Os casos clínicos de Freud, proferida em 06 de agosto de 2022 no Curso de Especialização Teorias e Técncias Psicanalíticas do Instituto de Estudos Psicana´líticos (IEP-RP)

Indagar-se sobre a importância de se estudar os casos clínicos de Freud é resgatar a própria origem e natureza da psicanálise, cujo cerne reside na absoluta indissociabilidade entre a teoria e a prática, uma dependendo da outra para avançar. 

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O monstro por trás do armário: elitismo e preconceito nas instituições psicanalíticas.

preconceito socialComo objeto histórico, as instituições psicanalíticas reforçam e aprofundam em seu dinamismo interior mazelas sociais que elas próprias pretendem combater no nível do discurso e das ações pontuais, como tem sido o caso recente das cotas para indígenas e negros poderem treinar-se como analistas. 

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Sofrimento e mal-estar na vida dos homens

 

Se de um lado a psicanálise de Freud viabilizou a expressão do mal-estar do sujeito com seu sexo, de outro não escapou de reproduzir, em forma de teoria, o sexismo vigente (Dio Bleichmar, 1988).

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O ser poético na modernidade

As articulações produzidas neste texto são fruto de um curso que acabo de acompanhar com o Prof. Franklin Leopoldo e Silva intitulado Filosofia e Intuição Poética na Modernidade, disponível na internet.

Nele, pensando no ser poético ou na identidade do poeta, o filósofo nos instiga com as seguintes questões: na medida em que um dos traços fundantes da modernidade é a degradação e a perda dos valores estéticos e éticos, como pode o poeta viver num mundo sem poesia? Ou, colocado de outro modo, como poderia o poeta continuar a fazer poesia em um mundo sem ideal? Haveria ainda alguma poesia possível para este mundo?

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Para que servem as palavras?

Sem a palavra o mundo humano é impensável. É por ela que expressamos ideias, sentimentos e percepções de mundo, criamos realidades, nomeamos seres e coisas, raciocinamos e tentamos dialogar uns com os outros. De outro lado, quando manejamos mal a palavra ou nos desgarramos de sua função simbólica, afastamo-nos em demasia da verdade das coisas, distorcemos valores e temos dificuldade para nos entender minimamente uns com os outros.

Tendo-se em conta a riqueza simbólica e instrumental da linguagem, será meu propósito aqui refletir sobre, afinal, para que nos servem as palavras.

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O falo como condição de alienação

Em psicanálise, uma forma de definir o falo é qualquer símbolo com função imaginária de suturar[1] nossas faltas existenciais. Freud descobriu que o pênis, órgão corporal masculino, tem para crianças de ambos os sexos, a função privilegiada de um falo.

Esta significação do pênis como falo é, obviamente, determinada pela cultura, o que significa dizer que não se trata de um mero acaso que as coisas tenham se arranjado assim. Em uma sociedade matrilinear e não patrilinear como é nossa, o falo bem poderia estar do lado feminino sendo, por exemplo, os seios intumescidos de leite ou o útero.

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Contribuições de Aristóteles para uma vida de sentido

O ser humano não é só, ainda que o seja também, um animal. Se de um lado ele está determinado por seus imperativos biológicos (necessidade de se alimentar e de se hidratar, de dormir e de procriar, de defecar e de urinar), o homem busca também transcender sua própria existência. Em uma linguagem bíblica, o homem almeja ser à imagem e semelhança de Deus.

Este seu anseio de transcendência e de superar a si mesmo é um exercício de potência realizadora que o impele sempre em direção a ser o melhor que ele pode em cada situação. Em poucas palavras, o ser humano necessita dar sentido à sua existência e anseia por uma vida de sentido, pelo menos, quando está saudável. Para Simone de Beauvoir “o Homem prefere razões de viver à vida em si mesma”. 

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Grupo de Estudo 2017 O Feminino na psicanálise

download (9)Estão abertas as inscrições para os grupo “Estudos sobre o feminino: leituras comentadas de textos freudianos e outros autores”.

Objetivos

I) Compreender, dentro de uma perspectiva histórica-cultural, os desenvolvimentos teóricos freudianos a respeito do feminino, nascido de sua escuta flutuante.

II) Estudar outros autores da psicanálise que fizeram acréscimo ao tema, bem como acompanhar o desenvolvimento da temática em obras literárias em que a problemática do feminino seja desenvolvida pelo autor.

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O problema da procriação em Freud.

O ato de procriar nos animais que têm seu comportamento sexual definido unicamente pelo instinto não é um problema moral. O que significa dizer que ele está fora do âmbito da escolha.

Mas o mesmo não acontece com os seres humanos, em que o ato de procriar inscreve-se – ou pelo menos deveria inscrever-se –  na problemática moral da escolha. Porque verdadeiramente desejo dar a vida a alguém é uma questão com à qual o ser humano minimamente inscrito na cultura deveria se debater em algum momento de sua vida.

Nesse sentido, será meu propósito neste texto, resgatar o que Freud postula a respeito do ato procriador nos seres humanos, a partir de suas reflexões no texto “Sobre o narcisismo: uma introdução” e mostrar como aquilo que ele coloca lá, e que está implicado no ato procriador, costuma estar radicalmente recalcado no âmbito da cultura.

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Sexualidade e erotismo em Sigmund Freud

images* Palestra proferida no dia 28 de março de 2016 no curso de Psicologia da UNAERP (Universidade de Ribeirão Preto), na disciplina Psicologia do Desenvolvimento Humano II, a convite da Profa. Me. Lilian de Almeida Guimarães.

Gostaria de começar minha fala de hoje com um trecho do romance “O homem sem qualidades” do escritor austríaco Robert Musil, escrito em 1931. Este livro foi considerado um dos maiores romances escritos no século XIX e penso que sua grandiosidade se deve ao fato de o autor ter conseguido captar a essência daquilo que viríamos chamar no século XX de “A era da técnica”.

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