Evidencia-se na clínica psicanalítica de alguns pacientes homens importantes conflitos na sua relação com o sexo oposto, causada por um tipo de neurose masculina bem específica.
Tal neurose, que Freud associou à neurose obsessiva, começará a ser visível na adolescência, quando os rapazes voltam a se interessar por mulheres, após o período de dormência sexual da latência.
Assim, enquanto um garoto saudável se interessará por mulheres nuas e ficará ereto ao vê-las, o garoto neurótico, em sua luta deliberada contra o desejo sexual, poderá desenvolver nesta fase sintomas como timidez excessiva e desconfiança em relação ao valor moral das mulheres, sobretudo das mais populares e bonitas.
Nesse aspecto, a desconfiança da reputação de uma mulher bonita é uma defesa que ele usa para encobrir sua própria insegurança em relação aos rivais, que ele deve superar para tê-la, problemática que remete sempre à competição edipiana que o menino tem com o pai, na infância, pela posse da mãe.
O que explica, por exemplo, porque uma mulher (ou homem) compromissada(o) se torna sempre mais interessante para tais pessoas.
Assim, o que se estabelece dentro destes homens é uma relação bastante conflituosa e ambivalente com as mulheres onde, de um lado, ele conscientemente ele às cobiça e deseja, e de outro, sente raiva e desprezo por elas.
Analisando os motivos ocultos desta raiva, o que se encontra é a revolta do rapazinho contra o fato de caber aos homens a iniciativa da conquista, posição narcisicamente muito perigosa para eles pelo risco da rejeição, e uma inveja inconsciente da posição passiva da mulher, a quem cabe simplesmente aceitar ou recusar o pretendente.
Nesse aspecto, observa-se ser muito angustiante para os homens a arte de saber interpretar nas entrelinhas se uma mulher realmente está receptiva a ele ou não.
Outro temor de fundo que se observa em muitos casos é o medo que estes rapazinhos sentem de virem a enlouquecer de tanto desejo sexual, o que os força a recalcá-lo brutalmente.
É o que se viu num homem bastante neurótico que, na juventude, sentia-se muito excitado com sua namorada, o que o levou a terminar com ela e se casar com uma mulher que não lhe despertava nada.
Assim, tais jovenzinhos neuróticos, quando adultos, acabarão se casando com mulheres que não desejam ou, caso as deseje, assim que se casem ou se tornem pais, deixarão de desejá-las. Ocasião na qual, recorrerão à amantes, pornografia, sonhos adúlteros; ou ainda, à masturbação, aos exercícios físicos ou ao trabalho compulsivo, de modo a deslocarem a libido insatisfeita.
Outra saída que estes jovens neuróticos encontram para canalizarem a libido represada é se apegarem, de modo fanático, à crenças religiosas e/ou políticas, que servirão, a um só tempo, como forma de extravasá-la e, ao mesmo tempo, defender-se moralmente dela.
Assim, é muito comum encontrar na fase da adolescência destes homens, períodos cíclicos em que oscilaram entre uma obediência cega à alguma figura de autoridade idealizada, substituta do pai, e condutas delinquenciais graves como colocar fogo em coisas, furtar, envolver-se em brigas e acidentes, mentir, dar cavalos de pau em automóveis, etc. Condutas que representarão, em nível inconsciente, exibições de superioridade e força em relação ao pai.
Concluindo, timidez e insegurança excessivas, a autopercepção de se ser feio e desinteressante para o sexo oposto bem como decepções amorosas sérias na puberdade, estarão entre alguns dos motivos que predisporão o jovem rapaz, mas também a garota, se excessivamente fálica, à neuroses sexuais graves no futuro.
Espero assim ter demonstrado que muitos dos maus sentimentos que homens neuróticos nutrem pelas mulheres advém de fontes inconscientes profundas, nunca acessadas fora do âmbito de uma análise, indo muito além do que se apregoa vulgarmente como machismo.
Muito bom o texto.
Ótimo tópico, após ler sobre essa perspectiva de que o homem é frequentemente o agente ativo no início de uma interação – algo que pode ser tanto recompensador quanto desafiador – e de que as mulheres assumem um papel mais passivo, raramente vivenciando essa experiência como dolorosa.
Percebi que essa “injustiça” é algo muito mais que tinha em minha cabeça do que realmente um problema real.
Obrigado pela reflexão.