Quantas vezes ele não foi e não avisou. Ou simplesmente ligou dando uma desculpa esfarrapada. Quantas vezes não retornou a ligação.
Quantas vezes ela negou aquele convite para sair com a amiga necessitada de conversar. Quantas vezes ela disse não, hoje eu não posso. Não porque não podia mesmo (embora ela não soubesse disso), mas porque tinha medo, não sabia ao certo do que.
Quantas vezes não respondeu aquele e-mail. Marcou aquela viagem e não foi. Disse que ia ligar e não ligou.
A vida se reedita nos encontros:
Milagre mesmo é ir. A beleza da vida se reedita nos encontros. Ausências, negativas, rompimentos e afastamentos. Isso é esperado.
Inesperado mesmo, e por isso maravilhoso, quase um milagre é o sim. Eu vou. Estarei lá. Se puder chego até antes para poder viver com mais intensidade a espera daquele momento. O frio na barriga.
Não fico surpresa e nem espantada com os nãos. São os sim que me espantam e me tiram o fôlego.
Bion, um grande psicanalista contemporâneo, dizia que o analista não deve ficar espantado com o paciente que não vai ao seu encontro, pois, não ir é sempre mais fácil. Mas, deve ficar espantado com o que é que leva aquele paciente, todas as sessões, semanas após semanas, meses após meses, anos após anos, para o encontro (com o analista, consigo mesmo, com o desconhecido).
Demorei muito tempo para compreender isso. Pois é realmente difícil e doloroso manter esta visão realista da vida, desta condição nossa de seres humanos sempre tão assustados.
Relações tipo “tênis” ou “frescobol”:
Esta semana recebi um presente de uma grande amiga. Um texto belíssimo do Rubem Alves chamado “Tênis e Frescobol”. Neste texto ele diferencia dois tipos de casamento. O casamento tipo “tênis” em que a meta dos jogadores “amantes” é destruir a jogada do parceiro. Nesta modalidade sádica de jogo, um precisa perder para o outro ganhar. Na modalidade “frescobol”, os jogadores parceiros têm como meta manter a bola sempre em movimento. Se a bola cai, ambos perdem.
Depois de ler muitas vezes esta pequena pérola de texto, algo que me motivou também a esta escrita, fiquei pensando que estas duas modalidades de relação não estão presentes somente no casamento, mas são modelos que podem ser aplicados em qualquer relação humana, inclusive na amizade.
Sendo assim, acredito que milagre mesmo é podermos encontrar pela vida umas poucas relações tipo “frescobol”. Parceiros, amigos, amores dispostos a dizer sim. Afinal, como nos ensinou Vinícius de Moraes, “a hora do sim é um descuido do não”.
A tragédia da vida e do viver.
Triste, muito triste.