Ontem assistia ao programa Saia Justa, exibido no canal GNT, composto atualmente por Mônica Waldvogel, Christiane Fernandes, Teté Ribeiro e o único calça justa, que ontem era Leo Jaime, que lutou bravamente durante todo o programa para poder poder exibir seus pensamentos, diante de três mulheres pra lá de falantes.
Peguei o programa no meio e me pareceu que eles discutiam a “eterna” questão da diferença das vivências entre homens e mulheres na questão do apaixonamento. Programa vai, programa vem e confesso que fui ficando um pouco incomodada com o discurso um tanto quanto biologizante e senso-comum que pairava no ar: “As mulheres preferem os inteligentes aos bonitos”, ou então, “eu nunca ficaria com uma pessoa bonita, mas burra”.
Envelhecer é se esvaizar de desejos…
Bem, simplificações a parte, lá pelas tantas, Leo Jaime solta a seguinte frase: “Envelhecer é se esvaziar de desejos”. Nesse momento, fixada por esta enunciação, começei a me questionar sobre o sentido disso e fiquei me perguntando: Será mesmo que envelhecer é se esvaziar de desejos?
E foi a partir daí que fiquei pensando que, na verdade, acredito que envelhecer não é se esvaziar de desejos, mas, se esvaziar de desejos ilusórios sobre a vida.
Mas, então, me vem novamente a seguinte questão: será que há, de fato, algum desejo que não seja ilusório em sua base? É possível sermos seres desejantes, mas de um desejos que seja mais realista sobre a vida, sobre nós mesmos e sobre os outros, ou seja, menos infantil?
E a minha resposta é: creio que sim!
Mas não acredito que essa desidealização precise ser chata ou paralisante. Ao contrário, acho que a perda de alguns ideais (no sentido de ficarmos menos tomado de desejos), torna a vida mais saborosa, no sentido de que podemos saborear cada gosto, doce ou azedo, sem tantos sonhos e, consequentemente, frustrações.
Mas não posso acreditar que isso é deixar de querer ou de desejar coisas. Ao contrário, acho que a forma de querer é que vai mudando, talvez ficando menos ansiosa ou intransigente.
Entretanto, ainda há uma última coisa que queria colocar: não acredito que nós tenhamos um ship interno que nos habilite naturalmente a passarmos por esta transformação com o passar do tempo. Não, definitivamente não acredito nisso!
Acredito que é possível vivermos uma vida toda impregnados de alguns discursos sobre nós mesmos e sobre os outros, se não houver algum tipo de descentramento ou, no mínimo, de algum estranhamento sobre as nossas crenças.
Por isso, essa estória de que nós somos como vinhos – ficamos melhores com o passar do tempo – não é necessariamente verdadeira.
Há de haver algum trabalho e alguma angústia nesta transformação, caso contrário, corremos o risco de passarmos a vida toda sendo um grande engodo.