As associações e idéias presentes neste artigo foram em grande parte evocadas em mim após ter assistido ao filme As melhores coisas do mundo, sob direção de Laís Bodansky (a mesma que dirigiu Bicho de Sete Cabeças).
O filme começa despretencioso e retrata os conflitos de dois adolescentes irmãos, um mais velho e o outro no início da adolescência, vivenciando um intenso conflito familiar provocado pelo fato do pai deles se divorciar da esposa pra ficar com um rapaz, seu orientando de pesquisa.
Mano, o personagem principal, é um adolescente cheio de recursos e de vida que se lança rumo às descobertas, agradáveis e dolorosas, que espera a todos nós que nos lançamos para viver de verdade: encontros e desencontros, frustrações com os pais idealizados da infância, a descoberta deliciosa da sexualidade e a possibilidade de se vivenciar verdadeiros encontros afetivos, que ele vive principalmente com seu professor de violão e sua colega de escola.
Encontros marcantes…
Em uma bonita passagem do filme quando Mano está triste e frustrado pelas dificuldades que está enfrentando na escola e em casa, seu professor de violão diz à ele que, se quiser de fato aprender a tocar (a arte da vida) precisa se lançar e escolher o seu caminho, algo que só ele pode fazer… Quem vai ditar o ritmo e a melodia será ele mesmo!
Outro personagem marcante no enredo é o professor de física que ensina aos jovens, de forma apaixonada e afetiva, a conhecerem os mistérios do Universo…de fora e de dentro. Tendo se envolvido com uma aluna, é expulso da escola. Entretanto, os próprios adolescentes pedem que ele volte, já que parece ser um dos únicos professores que se identifica com os jovens e ensina com paixão!
Bem, saindo do cinema fiquei inundada de vitalidade e de uma sensação gostosa de estranhamento diante do mundo, algo que penso que o adulto vai perdendo em sua trajetória e que o adolescente vivencia de forma intensa. E pensei: como fazer pra tentarmos manter dentro de nós este olhar adolescente diante da vida, sem perdermos a “adultez” no enfrentamento dela? Seriam coisas contraditórias e impossíveis de coexistir dentro de nós?
Então, fiquei pensando também que a questão não é o que quer o adolescente, mas o que fazemos com o nosso lado adolescente que dormita dentro de nós?
O que quer o adolescente em cada um de nós?
Penso que este aspecto adolescente representa um desejo de viver intensamente as coisas, de “pagar pra ver”, de se arriscar e de se lançar pra vida, não sem medo e sem angústias, é claro!
Acho que o que o adolescente deseja (e também o adolescente que há em cada um de nós) é alguém que não tema estar verdadeiramente próximo dele, que estabeleça de fato uma relação verdadeira e intensa, sem máscaras.
Alguém que não tema conversar de assuntos difíceis, mas que também consiga permanecer em silêncio quando as palavras só serviriam pra distrair e aliviar a angústia, que precisa ser vivida.
Alguém que suporte ser odiado e que não precise fazer nada pra reverter isso naquele exato momento. Que suporte simplesmente fazer companhia ao ódio e à dor. Isso parece simples, mas não é!
Então, aos poucos o adolescente (e cada um de nós) irá descobrir que estes encontros e desencontros fazem parte da vida e que perdoar as pessoas e nós mesmos por vivermos este turbilhão de sentimentos faz crescer e ampliar nossa capacidade de viver e de fazer escolhas.
Ele também poderá descobrir que o melhor companheiro pra sua jornada nesta vida é a sua própria mente e tudo o que dentro dela: obras de arte, músicas melodiosas e barulhentas, amor e ódio.
Espero que todos possam se deixar impactar por este filme e por tantos outros que nos lembram que estamos vivos!