Marina despiu-se em frente o espelho. Procurava suas próprias entranhas e vísceras. Enquanto fazia este gesto maquinal, fora invadida por uma cena infernal: Hugo, Marina e sua gata Frida deitados na cama. Três montes de vísceras, soltas no espaço. Presas somente por um invólucro fino e irresoluto de pele.
– Sim, pensou Marina. Somos todos uns sacos de vísceras e órgãos caminhando por aí.
Acontece que na manhã do dia em que se descobrira vísceras e órgãos, Marina teve um encontro com a sinistra morte. Enquanto saia para o trabalho, ela topou com um gato duro e morto. O cheiro de carnes putrefatas já começava a impregnar toda a rua. Ela, com seu olhar sempre tão infantil e inaugural, sentou-se escondida do outro lado da calçada, atrás de uma árvore. Queria checar a reação das pessoas frente àquela cena abissal: um gato duro, morto, sendo comido pelos vermes. Marina permaneceu ali por horas. Transeuntes passavam e simplesmente negavam a existência morta do gato.