Recentemente enterrei minha avó materna. Ela se chamava Maria. A mesma Maria da música de Milton Nascimento e Fernando Brant: uma mulher que merecia ter vivido e amado como outra qualquer do planeta. Mas, como comportada Maria que era a minha Maria ria quando devia chorar e estava mais habituada a aguentar do que a viver. Por isso se despediu da vida com os mesmos olhinhos tristonhos com os quais eu me lembro dela em grande parte da vida.
Pudor e hipocrisia no casamento conjugal moderno: reflexões à luz do pensamento de Simone de Beauvoir.
Uma mulher insatisfeita sexualmente com seu marido que ligasse a rádio na década de 80 e ouvisse a parada pop de sucesso “Amante profissional” (da banda Herva Doce) ver-se-ia seriamente tentada a contratar o serviço.
Na irreverente música o tal amante profissional é descrito como um homem alto, moreno, bonito, carinhoso e sensual, capaz de realizar a fantasia da mulher insatisfeita sexualmente por meio de um relacionamento íntimo e discreto e sem qualquer compromisso emocional.
A cena faz apelo (e sucesso) porque joga com a insatisfação da mulher com aquilo que ela tinha em casa, ou seja, o marido. O amante profissional, alto, moreno, bonito, carinhoso e sensual, é quase sempre o contrário do que era o marido da realidade: por vezes baixo, calvo, já com o abdômen avantajado e largado por anos da prática da cerveja e do exercício tipo controle remoto, estúpido e grosseiro e nem um pouco romântico com o avançar dos anos de casamento, se é que fora um dia.
O homem forte
Qual a marca fundamental de um ser humano forte? O que é que se reconhece exatamente como sendo a força de uma pessoa?
Freud nos ajuda a pensar sobre isso.
Nas “Cinco lições de psicanálise” (1905) ele diz textualmente que um homem enérgico e vencedor é aquele que, pelo próprio esforço, consegue transformar em realidade seus castelos no ar.
Mas o que exatamente ele quer dizer com isso? O que seriam estes tais castelos que, no homem forte, são erguidos a partir do nada, do ar e que derivam de uma conjunção feliz entre circunstâncias externas favoráveis (Freud nunca deixou de considerar o elemento sorte) e de uma força interna descomunal?
Para que servem as palavras?
Sem a palavra o mundo humano é impensável. É por ela que expressamos ideias, sentimentos e percepções de mundo, criamos realidades, nomeamos seres e coisas, raciocinamos e tentamos dialogar uns com os outros. De outro lado, quando manejamos mal a palavra ou nos desgarramos de sua função simbólica, afastamo-nos em demasia da verdade das coisas, distorcemos valores e temos dificuldade para nos entender minimamente uns com os outros.
Tendo-se em conta a riqueza simbólica e instrumental da linguagem, será meu propósito aqui refletir sobre, afinal, para que nos servem as palavras.
O falo como condição de alienação
Em psicanálise, uma forma de definir o falo é qualquer símbolo com função imaginária de suturar[1] nossas faltas existenciais. Freud descobriu que o pênis, órgão corporal masculino, tem para crianças de ambos os sexos, a função privilegiada de um falo.
Esta significação do pênis como falo é, obviamente, determinada pela cultura, o que significa dizer que não se trata de um mero acaso que as coisas tenham se arranjado assim. Em uma sociedade matrilinear e não patrilinear como é nossa, o falo bem poderia estar do lado feminino sendo, por exemplo, os seios intumescidos de leite ou o útero.
Amar o humano em cada homem
O poeta e escritor D. W. Lawrence trabalha com uma ideia, resgatada da filosofia, muito interessante àqueles que gostam de exercitar o pensamento.
Diz ele que a forma de amor mais elevada é aquela em que somos capazes de amar e tratar com dignidade e respeito a cada ser humano em particular porque nele está contida a humanidade inteira.
Acabo de fazer uma linda viagem em que pude sentir e vivenciar o que propõe Lawrence. Conheci e conversei com muita gente nesta viagem; ouvi histórias dramáticas e lindas; enxerguei sonhos e frustrações; vi beleza e feiura de espírito; encantei-me com um homem corajoso e viúvo que viaja só em busca de experiências estéticas; emocionei-me com um humilde e nobre pescador preocupado em cuidar do lixo de sua comunidade; conheci pessoas generosas que me trataram com acolhimento e calor humano; também enxerguei olhares perdidos, gente confusa e atormentada; gente raivosa e sem brilho nos olhos.
Minhas primeiras jabuticabas
Que feliz aprendizado estou tendo ao poder cuidar de meu jardim e observar o ritmo próprio da natureza. Tenho me impressionado ao pensar como o cuidado das plantas e a observação atenta do ritmo da Terra podem ser uma rica metáfora da própria vida e de como devemos buscar vivê-la.
Mudamos para nossa casa no mês de maio deste ano e iniciamos nossa jornada nela com um difícil e árido outono. Neste momento, as plantas recém-plantadas e, portanto, ainda muito frágeis, começavam a perder suas folhas, em um processo que parecia de destruição, mas que, no fundo eu sabia ser de renovação. Enfrentando uma dura estiagem, lembro-me de como me senti exigida em minha capacidade de espera pela realidade inóspita porque meus olhos me levavam a crer que aquelas plantas não iriam sobreviver, por mais água que lhe déssemos.
Contribuições de Aristóteles para uma vida de sentido
O ser humano não é só, ainda que o seja também, um animal. Se de um lado ele está determinado por seus imperativos biológicos (necessidade de se alimentar e de se hidratar, de dormir e de procriar, de defecar e de urinar), o homem busca também transcender sua própria existência. Em uma linguagem bíblica, o homem almeja ser à imagem e semelhança de Deus.
Este seu anseio de transcendência e de superar a si mesmo é um exercício de potência realizadora que o impele sempre em direção a ser o melhor que ele pode em cada situação. Em poucas palavras, o ser humano necessita dar sentido à sua existência e anseia por uma vida de sentido, pelo menos, quando está saudável. Para Simone de Beauvoir “o Homem prefere razões de viver à vida em si mesma”.
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Artigo científico publicado na revista Psicanálise & Barroco em Revista 2015
Acesse o meu artigo científico intitulado As tramas do nascimento psíquico no conto A Legião Estrangeira, de Clarice Lispector, publicado na revista Psicanálise & Barroco em Revista em 2015.
Referência: MORAES MARTINEZ, A. L. As tramas do nascimento psíquico no conto A Legião Estrangeira, de Clarice Lispector. Psicanálise & Barroco em Revista, [S. l.], v. 13, n. 1, 2018. DOI: 10.9789/1679-9887.2015.v13i1.%p. Disponível em: http://seer.unirio.br/psicanalise-barroco/article/view/7351.
Artigo científico revista Estilos da clínica (USP. Impresso) 2014
Acesse o meu artigo científico intitulado Ressonâncias do inconsciente materno e familiar na sintomatologia infantil e no setting analítico, publicado na revista Estilos da clínica em 2014.
Referência: MARTINEZ, A. L. M. Ressonâncias do inconsciente materno e familiar na sintomatologia infantil e no setting analítico à luz de um caso clínico. In: Estilos da clínica. (USP. Impresso), v. 19, p. 91-110, 2014.
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