Na noite em que Helena soube da terrível notícia foi como se um vento frio e fúnebre percorresse toda a sua espinha dorsal. Naquele exato instante, ela sentiu-se desfalecer. Um ar gelado e inóspito sombreou sua alma, estado que perdurou durante todo o final de semana. Enquanto Pedro se debatia confusamente frente à notícia, pois tinha dificuldade enorme para se decidir se aquilo era bom ou ruim, motivo de alegria ou de imensa preocupação, Helena pôs-se a pensar de forma compenetrada porque reagira daquela maneira inesperada. Primeiro tentou dizer a si mesma que, afinal de contas, um bebê é sempre algo bom. Lembra esperança e renovação. Mas como sua alma não era afeita a romantismos, logo em seguida pensou consigo mesma, um pouco irada com sua tentativa de ser ingênua – coisa que nunca lhe caia muito bem – que bebês crescem e que coisas trágicas podem acontecer na vida de um infante sem que ninguém se aperceba disso. Decididamente, Helena não conseguia dar a si mesma pequenas e ilusórias alegrias mundanas que outras criaturas facilmente o faziam. Sua personalidade não deixava barato e isso lhe era mais um fardo do que uma dádiva: ela não se permitia não ir ao fundo de cada coisa.
Supervisão online em psicanálise
Se você é psicólogo ou psiquiatra, atende no consultório utilizando a psicanálise ou pretende aprender a utilizá-la no trabalho com os seus pacientes, agora você tem a chance de fazer supervisões pela internet.
A supervisão em psicanálise online é uma saída muito interessante, pois disponibiliza o conhecimento psicanalítico a um número maior de pessoas que, de outra maneira, não teria acesso aos conhecimentos de um psicanalista numa supervisão presencial. Continuar lendo Supervisão online em psicanálise
O paciente obsessivo e a psicanálise
Na semana passada recebi o contato da Aline pedindo-me para comentar sobre como a psicanálise pode contribuir para compreender o paciente que apresenta sintomas obsessivos. Ela escreveu:
Olá, Ana. Gostaria de saber um pouco mais em relação ao paciente diagnosticado com TOC. Como são estruturadas as sessões? Qual o olhar da psicanálise em relação a esse sujeito? E por último o que fazer quando esse sujeito demonstrar resistência principalmente à associação livre?
Meus comentários:
A mesma hora
Um tédio imenso encheu o peito de Frida. É que ela havia percebido, pela primeira vez, que a passagem do tempo é inexorável. Tudo isso ela enxergou de uma só vez, no exato instante em que carregava a sacola de compras com dez batatas e um maço de rabanetes que iria usar logo mais para preparar o jantar, exatamente como fazia há trinta anos.
Depois da descoberta colossal, Frida passou a caminhar com passos duros pela rua. O inverno se extinguia e um princípio de explosão de vida começava a ensaiar seus primeiros movimentos.
Diante da flor amarela, Frida fechou os olhos. Estava horrorizada.
Olhava a convulsão das folhas secas que caiam uma a uma pelo chão, deixando a rua suja como um museu. O mesmo museu que preservara por tantos anos em sua alma com seus sonhos perdidos de infância, os suspiros que nunca deu, o sorriso que morreu antes de nascer.
Sobre abutres e água de alfazema
Caio não nasceu, rebentou. Era uma criança tão desajeitada que seu pai queria amá-lo, mas não conseguiu. Tudo nele era parvo. Seu ser fazia-se estabanado; tinha ares de estupidez branca, mas não porque fosse limitado ou incapaz. Era por desarvoramento de alma que ele não conseguia pensar com lucidez. Os seus dois únicos fracos sentidos na vida eram comer e dormir. Neste quesito era mais como os gatos, os cachorros, os tigres e os elefantes.
Selvagem, o pai de Caio havia esperado outro filho; alguém mais pronto, acabado como ele próprio julgava ser. Em sua lógica só o perfeito merecia ser salvo; o torto devia ser deixado aos abutres.
Acontece que na torta vida humana faltam abutres para devorar os tortos, os mal acabados, os nunca nascidos, os carentes de espírito. Na vida humana a lei implacável da sobrevivência dos mais fortes não é um fato consumado. Sempre há um gesto de amor que adota e muda o curso.
Resistências à terapia em tempos de crise nacional
É sabido de todos que o Brasil vive um período de crise política e financeira, consequência de um pensamento mágico que pairou entre os governantes e a população na última década de que a crise mundial não iria chegar aqui (“era só uma marolinha”) e de que, por isso, podia-se gastar muito mais do que se arrecadava.
Diante da constatação de que há uma crise instalada, meu objetivo neste post é refletir sobre como, em momentos de crise (individual e nacional), as pulsões destrutivas tendem a predominar no psiquismo levando o indivíduo a entregar-se sem tanta resistência ao princípio de prazer.
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Comentários sobre o filme Elsa e Fred
O filme Elsa e Fred, dirigido pelo norte-americano Michael Radford lançado em 2011 é uma adaptação do filme de mesmo nome do diretor argentino Marcos Carnevale. Como toda obra Fred e Elsa apresenta inúmeros vértices interpretativos. Elencarei para a minha fala dois eixos de discussão que a meu ver estão propostos no filme.
O primeiro é o modo como a sociedade, representada no filme pela escola de dança, lida com o velho. A segunda diz respeito ao modo como o processo de envelhecimento e proximidade da morte será vivenciado por cada pessoa, de acordo com suas características de personalidade que tendem a se acentuar no final da vida.
Os passos antes de se procurar um psicanalista
Para que o trabalho de um psicanalista seja eficiente você realmente deve estar motivado para receber auxílio. Este é o primeiro ponto.
Normalmente, entre os primeiros sinais do desejo de procurar auxílio e a procura efetiva, a pessoa demora um tempo, que pode variar de meses a anos, para finalmente conquistar coragem e marcar uma primeira consulta.
Decidi marcar. E agora?
Depois de tomada a decisão em marcar uma primeira conversa com o psicanalista, a pessoa viverá emoções intensas até o horário agendado.
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Comentários sobre o filme Elsa e Fred no SESC Ribeirão Preto
No próximo domingo, dia 04 de outubro, fui convidada pelo SESC – Ribeirão Preto, em comemoração ao dia do idoso, para comentar o filme norte-americano “Elsa e Fred”, de Michael Radford lançado em 2014.
A exibição do filme, seguida de bate-papo com o público, acontecerá às 14:30 horas no auditório do SESC, que fica à Rua Tibiriça, número 50 – Centro.
O filme narra a história de amor vivida no final da vida entre os personagens Fred e Elsa. Ela, uma mulher cheia de vitalidade e profundamente amorosa, consegue ir aos poucos conquistando o endurecido e magoado Fred, ensinando a ele (e a todos nós) preciosas lições sobre a arte de viver e de morrer!
O filme é um ótimo estímulo para refletirmos sobre o processo de envelhecimento e a inexorável morte: destino certo de todos nós!
Conto com participação de cada um de vocês!
O evento será gratuito.
O participante deve retirar seu ingresso na própria bilheteria do SESC.
A pele que habito
Meu objetivo neste post é comentar o filme “A pele que habito” de Pedro Almodóvar estabelecendo um diálogo entre minhas associações sobre o filme e a psicanálise.
Não é desnecessário frisar que como se trata de uma obra de arte as possibilidades interpretativas são várias e dependem do olhar do intérprete.
Para mim, nesta obra (assim como em outros filmes seus) Almodóvar pretende convidar o espectador a refletir sobre a questão da identidade sexual e / ou de gênero. Esta é uma discussão sempre espinhosa porque as categorias homem e mulher são fortemente impregnadas por visões normativas que foram sendo construídas e sedimentadas por séculos.