Ela se chamava Miréia. Ou melhor, este fora o nome que Pedro lhe dera depois de encontrá-la numa gaiola minúscula em uma sala escura, órfã de pai, mãe e irmãos. A cena daquela galinhazinha que nunca pisara em grama, piando freneticamente, como que pedindo para ser adotada, fez vibrar alguma corda insondável do bom coração de Pedro que imediatamente, como para salvar uma alma do hiato da não existência, pegou a galinha, enfiou-a no carro e a levou para casa.
Sua esposa Clarice viu-o chegar com a galinha que o seguia pra lá e pra cá, cheia de orgulho por recém ter encontrado uma mãe novinha em folha para ela, e não pôde deixar de ver graça na cena. Afinal, não se sabia muito bem qual dos dois, se galinha ou Pedro, sentiam-se mais sortudos com aquele iniciozinho de amor que já prometia grandes belezas, mas também uma boa dose de dor, porque um não vem sem o outro.
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