Recentemente enterrei minha avó materna. Ela se chamava Maria. A mesma Maria da música de Milton Nascimento e Fernando Brant: uma mulher que merecia ter vivido e amado como outra qualquer do planeta. Mas, como comportada Maria que era a minha Maria ria quando devia chorar e estava mais habituada a aguentar do que a viver. Por isso se despediu da vida com os mesmos olhinhos tristonhos com os quais eu me lembro dela em grande parte da vida.
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Pudor e hipocrisia no casamento conjugal moderno: reflexões à luz do pensamento de Simone de Beauvoir.
Uma mulher insatisfeita sexualmente com seu marido que ligasse a rádio na década de 80 e ouvisse a parada pop de sucesso “Amante profissional” (da banda Herva Doce) ver-se-ia seriamente tentada a contratar o serviço.
Na irreverente música o tal amante profissional é descrito como um homem alto, moreno, bonito, carinhoso e sensual, capaz de realizar a fantasia da mulher insatisfeita sexualmente por meio de um relacionamento íntimo e discreto e sem qualquer compromisso emocional.
A cena faz apelo (e sucesso) porque joga com a insatisfação da mulher com aquilo que ela tinha em casa, ou seja, o marido. O amante profissional, alto, moreno, bonito, carinhoso e sensual, é quase sempre o contrário do que era o marido da realidade: por vezes baixo, calvo, já com o abdômen avantajado e largado por anos da prática da cerveja e do exercício tipo controle remoto, estúpido e grosseiro e nem um pouco romântico com o avançar dos anos de casamento, se é que fora um dia.
Crônica de um casal quase moderno
O casal unido há quase vinte anos, com uma convivência tão satisfatória quanto pode ser a convivência entre dois seres humanos, acaba de ter uma relação sexual.
Com o auxílio de um vibrador, a esposa chega ao orgasmo e com isso se sente animada para continuar aproveitando a penetração. Satisfaz-se de novo. Terminado o jogo erótico, levantam-se, banham-se e vão à cozinha. Há uma louça a ser lavada e como um bom casal quase moderno, que divide todas as contas da casa igualmente, a esposa, entre ingênua e curiosa, pergunta:
– Quem vai lavar a louça hoje? Eu ou você?
– Você. Eu te fiz gozar…
Silêncio magoado e constrangido.
– Eu também te fiz gozar. Então, você lava a louça hoje!
Maternidade: escolha ou destino?
Na semana passada vivi uma experiência desagradabilíssima, que servirá como estímulo para minhas reflexões neste texto. Vamos à cena:
Eu e um médico ginecologista, bastante avançado em idade. Tratava-se de uma consulta de rotina. Depois dos procedimentos rotineiros, o médico me indaga, com olhar inquisidor:
– Você não vai ter filhos?
– Por enquanto não. Respondo prontamente.
Silêncio sepulcral…
O feminino na Psicanálise e na tragédia grega.
Em suas elaborações sobre o feminino, Freud lançou a seguinte questão, para ele enigmática e difícil de ser respondida: “O que quer uma mulher?”. Para mim, há ainda outra questão anterior a esta e talvez mais importante: “O que é uma mulher?”.
Freud foi duramente criticado por analistas que se seguiram a ele e também por correntes feministas que consideraram sua teoria falocêntrica. Explico-me. Todo o embasamento teórico que Freud deu no que se refere à construção das identidades masculinas e femininas foi assentada na presença ou ausência do pênis, ou seja, no modo como cada ser humano vivência e se coloca diante da castração.
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